sexta-feira, 28 de agosto de 2009

dose dupla

olá pessoas!

espero de verdade que os poucos (porém valiosos e estimados) que por aqui passam estejam bem.

gostaria de anunciar a nova onda do momento aqui neste blogue: trata-se da postagem "dose dupla".

antes que perguntem como funciona essa maravilha literária, já me antecipo e informo que não é uma egotrip pretensiosa.

é um esquema bem simples, eu publico um poema meu, seguido de outro de um autor renomado que eu ache interessante e estabeleça algum tipo de diálogo com o poema original.

espero que gostem da idéia e, mais que isso, caso se sintam estimulados a participar, me mandem suas sugestões (nesse mesmo molde) para que eu as publique quando for oportuno.

aproveito também para perguntar quem aqui poderia me ajudar com as licenças creative commons, já andei atrás de ajuda, mas até agora nada!

ps: então, sem mais delongas, vamos ao que interessa:


A:
tic-tac, tic-tac

meu choro mais sentido

o lamento mais sofrido
ninguém consegue entender
será mesmo impossível perceber?

e ver como não há mais
motivos pra chorar

ao mesmo tempo
entender porque

lágrimas vertidas

acabam
vistas
como vertigens

a verdade é uma só
sinto muito e lamento
acho triste demais
presumo como ninguém mais
se mostra capaz
de sofrer pelo outro

não encontro exemplos concretos
para sentir, calcular, estipular
muito menos mensurar

o teor da dor alheia


ainda mais no meu caso
tortura
essa
que se torna eterna

não cessa e perdura
é uma espéce de bomba

na verdade só se desarma

quando me armo de papel e caneta
(rodrigo cruz)



B:
Dá-nos a Tua paz
(Álvaro de Campos)

Dá-nos a Tua paz,
Deus Cristão falso, mas consolador, porque todos
Nascem para a emoção rezada a ti;
Deus anti-científico mas que a nossa mãe ensina;
Deus absurdo da verdade absurda, mas que tem a verdade das lágrimas
Nas horas de fraqueza em que sentimos que passamos
Como o fumo e a nuvem, mas a emoção não o quer,
Como o rasto na terra, mas a alma é sensível…

Dá-nos a Tua paz, ainda que não existisses nunca,
A Tua paz no mundo que julgas Teu,
A Tua paz impossível tão possível à Terra,
À grande mãe pagã, cristã em nós a esta hora
E que deve ser humana em tudo quanto é humano em nós.

Dá-nos a paz como uma brisa saindo
Ou a chuva para a qual há preces nas províncias,
E chove por leis naturais tranquilizadoramente.

Dá-nos a paz, porque por ela siga, e regresse
O nosso espírito cansado ao quarto de arrumações e coser
Onde ao canto está o berço inútil, mas não a mãe que embala,
Onde na cómoda velha está a roupa da infância, despida
Com o poder iludir a vida com o sonho…

Dá-nos a tua paz.
O mundo é incerto e confuso,
O pensamento não chega a parte nenhuma da Terra,
O braço não alcança mais do que a mão pode conter,
O olhar não atravessa os muros da sombra,
O coração não sabe desejar o que deseja
A vida erra constantemente o caminho para a Vida.
Dá-nos, Senhor, a paz, Cristo ou Buda que sejas,
Dá-nos a paz e admite
Nos vales esquecidos dos pastores ignotos
Nos píncaros de gelo dos eremitas perdidos,
Nas ruas transversais dos bairros afastados das cidades,
A paz que é dos que não conhecem e esquecem sem querer.

Materna paz que adormeça a terra,
Dormente à lareira sem filosofias,
Memória dos contos de fadas sem a vida lá fora,
A canção do berço revivida através do menino sem futuro,
O calor, a ama, o menino,
O menino que se vai deitar
E o sentido inútil da vida,
O coveiro antigo das coisas,
A dor sem fundo da terra, dos homens, dos destinos
Do mundo…


(Fernando Pessoa in: "Poesia de Álvaro de Campos")




"Nada há para ser conquistado, apenas ignorância por ser removida."
Ramana Maharshi

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

mais máximas minimalistas (volume 3)

sem nome:

diz-me com quem andas
que dir-te-ei porque se escondes

re-visão:

das sombras ao pó

as dúvidas contumazes são
as mazelas necessárias
para a maturidade
permitindo ao espírito

superar a derrota
suportando então
todas as formas de decepção

alcançando assim
a redenção

apenas por um motivo:

risco letras por nada

sinto falta do que nunca vivi
ávido por novidades
sigo em um duelo com o desconhecido

procuro, encaro, enfrento
desafios / conquistas / derrotas / amores
companheiros de jornada
mas bem sei que
no fundo, afinal
o final
é sempre assim
esgrimindo sozinho
(eu e minha mente)
esta história
se dá por encerrada

(in) justiça social:

ao flanar por uma rua estreita
avisto um mendigo, caminhando trôpego em sentido oposto
o mendigo me encara com suas roupas puídas e mal ajambradas
mas eu, confuso, com meu tenis de grife, casaco importado e perfume francês
rapidamente desvio o olhar
assim nos cruzamos e seguimos nossos caminhos
após esse curto incidente, me pergunto:
qual alma estaria mais limpa?



ciclos (anti)naturais:

sou eminentemente noturno

e preciso do sol
mas não reflito nada

o ar rarefeito rareia
enquanto rateio o tempo
a vida por mim passeia


categorias líricas de sacrifício:

para uns, escrever é um dilema

outros declamam com lânguida emoção
há sempre os esmerados catedráticos
destrinchando cada linha e verso
para mim é isso tudo e muito mais
há algo além que é deveras complexo
tem o seu quê de ritual, exorcismo, dor
meu sagrado ofício

rebelião:
nada tenho a acrescentar
não saberia pelo que lutar
nesse mundo conturbado
não há maior revolução explodindo
do que aquela eclodindo
aqui dentro de mim


a-identidade: (v-beta)

uns me olham com ironia
me ofendem
achando graça
já outros fazem troça
não sou boleiro, playboy
neo-hippie ou maloqueiro

quem sabe rimador ou ator?
é difícil saber

talvez pela timidez inata
deste ser atormentado

instigado por estímulos
imediatos, instantâneos
que pautam meus
atos, relatos e contatos

com o mundo
com os outros
com a vida

contigo
há alguma dúvida?
você duvida?

" Não podes ver o que és.
O que vês é a tua sombra."

(Rabindranath Tagore)

sábado, 22 de agosto de 2009

rimar é preciso

errar é preciso
navegar também
por isso eu rimo

na vida
os efeitos daquilo que é feito

são sempre irreversíveis

versos inevitáveis

desfechos de trechos
emotivos
vórtices de lembranças fugidias


assim resgato tudo ao escrever
descrevo
sofrimentos,
relato perdas, derrotas
,
alegrias, prazeres,
lágrimas e vitórias

são fotografias gravadas no meu cérebro
passando, circulando por entre nervos e retina
através da arte posso atingir
tingindo a forma que se imagina

nada mais tenho a pensar, não consigo sentir nada

e mesmo assim minha mão não se furta
a escrever, uma linha extensa, frase curta

seria compulsão, desespero, delírio ou paixão?
ainda não consegui explicar com clareza
que haja outra forma tão pura de expressão

capaz de me curar com tamanha presteza
das desventuras do amor, tristeza e perdão

meus dias nada tem de colorido

são mais sofridos, me castigam
com doses torturantes

os sete corpos do espírito
mortalmente feridos
e meu corpo maculado

prontamente anunciam
que nada será como antes


não é choro de perdedor ou tampouco desculpa esfarrapada
queria ser diferente, melhor, mais humano e mais nada
um emprego bacana, um amor eterno e sacana

aquele canto para chamar de meu, pequeno casebre

tudo que sonegue tanta dor, me sossegue por onde for

a real disso tudo é: não existe vitória fácil

tive a chance de ouro e a perdi, pois fui tolo
difícil lidar com isso, com a dor conviver
nada mais se mostra eficaz
é preciso, porém, sofrendo ou não
recuperar meu eu,
esteja onde estiver
fazendo o que for

nos seus braços enlaçados,

em beijos ardentes ou na troca de anéis
ao sabor das ondas, recupero a fé no bem

por isso creio que
navegar é preciso

e rimar também


rodrigo cruz

o tema é o título

não sei do que falar
nem tenho mais pelo que chorar
meu amor próprio é nulo
me confundo, me atiro fundo
o tempo todo
perdi lá, bem dentro em mim
meu maior tesouro

e sem sentir, sinto o vento passear
passando ao longo do meus corpos astrais
estremeço, faço tudo errado
trapaceio no momento inoportuno
brado quando devo calar
rio alto na hora de silenciar

me assusto como um gatuno desavisado
roubando, escondendo, aquilo que não é válido
escamoteando as respostas postas na mesa
sem a menor destreza
ginga ou malemolência

a inocência se esvaiu, a dor a superou
espero me retratar
com a caneta poder confessar
mudar as emoções de lugar
e assim me reinventar

ao ciclo da vida integrar
como um cone ou espiral
há algo em mim que cresce
continuamente até alcançar o alto

estou farto de mim mesmo
dos meus defeitos, de tanta covardia
da inveja, da raiva contida
e tanta falta de ousadia

mas não me restou outra saída
senão viver com coragem, valentia e sorte
amanhã estarei pior, depois melhor,
mais capaz, fraco ou forte
e assim, só por teimosia,
vivo desafiando a morte

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

cinzas letradas adentrando a madrugada

Outras máximas (não tão) minimalistas:

V: gotas e mais gotas de tristeza

"constato como a chuva e o frio
em nada constrastam com aquilo
contido aqui dentro que expresso

interna ou externamente...

somente escrevendo,
expurgando a maldade
resgato de fato
aquilo que é inato,

por nada mais eu vivo,
seria outro de mim
se não fosse assim..."


6: sofisma cria-tivo
Não à beleza sem verdade!
Não há verdade sem confronto.
Não ao confronto sem labor!
Não há labor sem técnica!
Não há técnica sem criação!
Não à criação sem arte.
Não há arte sem beleza!
Não?
Não há!
Não...

07 -
alfa - ômega
(yin x yang)

diante de tamanho caos, clamo por Deus
mas não encontro respostas
evoco Titãs adormecidos do passado
porém não falo suas línguas
no frio mundo da matéria, não encontro deuses
só me resta, só
alcançar o Logos
o infinito de onde me recrio
me rendo, ao todo integro
por inteiro
assim se faz a luz
poder divino e incompreendido
pura criação


viii: anomalia mutante
corro
caminho
percorro o caminho
em passos largos,
passo ao largo dos acontecimentos
ando me esquivando dos outros
deslizando entre os carros
no meio fio
no meio urbano
atravesso essa rotina
engarrafado em
situações
banais
do cotidiano
não insisto, resisto, sem desistir
vou batendo perna enquanto
a batida dos carros nos captura
sequestrando
a atenção da multidão
até que me derreto
no asfalto escaldante
verdadeira anomalia mutante



nove: photo phobos

não é o medo das fotos
mas sim da luz
cujo brilho ofusca e seduz
por isso talvez seja tão cego ao óbvio
(eu quero um antídoto pra viver melhor)



“Fay ce que vouldras”
(mas pague o preço)


"meus olhos não choram mais ante o pudor dos pedintes;
demasiado endureceu minha mão, para sentir o tremor das mãos satisfeitas.

para onde foram as lágrimas dos meus olhos e o frouxel do meu coração?
ó solidão de todos os dadivosos! ó silêncio de todos os que espargem luz!

muitos sóis gravitam nos espaços vazios; falam,
com sua luz a tudo o que é escuro - comigo, silenciam"
(friedrich nietzsche, assim falou zaratustra, p. 119. 5a ed.)



paz, luz e amor infinitos

rodrigo cruz

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

noite e dia, mar adentro de mim

não consigo viver sem sonhar
mas preciso lutar
pelo meu dia

para fazê-lo valer
encontrando um sentido

a tonga da mironga me confunde
se funde aos meus versos possessos

possuo apenas isso
e uma estrela ardente

amarela e incandescente

dentro do peito

não tem mais jeito

nenhuma praga se alastra
me alcança
seja de dia, noite
ou atravessando a madrugada

não sei mentir direito,
mas já vendi um mar de ilusões
sonambulo,
me sacudo,
perambulo

meu suor nada tem de sagrado

a roda gira,
o mundo vive

assim escapo do declive
convencendo a todos, do bispo ao traficante
de que meus sonhos valem mais que diamantes

são desejos de amantes,
talvez
o medo se desfez,
sumiu, passou
perdeu a vez
já me chamaram de
malandrão,
feio, idiota
veado, corno,
chorão,
sagaz, verme, maluco, guru, doidão

nada disso me serve

ainda mais quando o sangue ferve

ouvi dizer que o mundo é dos espertos

se for verdade, recuso,
refuto com os olhos bem abertos

e assumo que pertenço
a qualquer outro campo
reino ou plano da existência
divina, astral ou inumana
onde há outro tipo de tendência que emana
e prevalece a busca pela paz
não me importo de ficar pra trás
retrocedendo, acabo avançando
saltando três passos
e ultrapassando o abismo

e se faltassem
rimas, ritmo ou métrica
bastaria sonhar acordado,
procurar o sagrado no profano
o suor da labuta no cotidiano
a beleza da lótus brotando no pântano
a magia é instantânea
afundo,
transmuto e pronto
voltei à fonte original
encontrei o resgate após me perder
mergulhando no infinito
me afogo n´alma do mundo
nada mais tenho a temer

rodrigo cruz

terça-feira, 18 de agosto de 2009

e é desse jeito, sem mentira e sem massagem

olá pessoas, visitante, curiosos de todos os tipos!
vamos a mais uma postagem, mas antes, gostaria de pedir que os seres que por aqui pousarem se lembrem de opinar nas caixas abaixo dos posts (no campo "impressões sinceras").
apesar do nome, podem mentir, fica a critério de cada um...
bem, sem mais delongas:

minha mente é ingênua como uma criança
meu corpo se cansa mais do que um senhor
mas meu espírito é tão livre e eterno
quanto o tempo
singra o espaço
voa e sangra galáxias
rompe o firmamento
ultrapassa cometas
rasgando os sete véus
que separam a lua do céu
por isso comento
sem sombra de certeza
contra todos os tipos de dúvida
o mundo é uma prisão
e esta selva de concreto
nos atinge em cheio, desafetando,
tudo o que vem amargando, direto e reto
para depois, dependendo do mérito
depurar as tantas formas de dor
apurando a vida com gosto e sabor
transmutando os defeitos e erros imutáveis
pois a vitória, nada tem de acidental
a batalha é aqui, agora, no real
e o resultado, anormal, é a paz interna
para atingir a harmonia externa
caminho único da nova era



paz, luz, amor, justiça e liberdade
a todos os mundos e todos no mundo
no intento inflexível
(assim espero e me esmero)


só o sol tem hora, eu não

falando em tempo, pensando ao sabor do vento, me surgiu essa reflexão... ou seja, nos capítulos a seguir, maiores máximas minimalistas virão...
eis a primeira das últimas:

regras em excesso causam no meu coração um abcesso
na busca por fugir dos rótulos,
a gente sempre acaba enquadrado em algo
isso é verdade, mas é também a divina desculpa dos tolos


paz, amor, justiça e liberdade!


"O INEFÁVEL É INVISÍVEL AOS OLHOS DA CARNE, MAS É VISÍVEL À INTELIGÊNCIA E AO CORACÃO."

domingo, 16 de agosto de 2009

renascimento, da mente e do espírito

"(...) tristeza foi assim, se aproveitando pra tentar... se aproximar (...) "

parecido, porém diferente dos mestres
(1: jovelina e 2: b-negão+ digitaldubs),
ai de mim se não fossem as armas
(papel e caneta, ou teclado e monitor, depende do meio)

assim sendo, vamos ao (novo) desabafo matinal:


bem como já disse
em outras ocasiões
nada tenho a perder
tampouco a temer
essa é a maior das revoluções
*
o som dentro de mim
que me oprimia
torturava meu cérebro, alma
acabando com minha calma
açoitando-a
com cólera
ódio e ardor
subitamente mudou
*
virou uma base musicada
bem ritmada e celestial
misturando um impulso
primal, diferente
um misto de ska, com pitadas de samba psicodélico
sons de cítaras e "wah wahs" derretidos
de fundos orgânico, eletrônico e quânticos
que me fizeram tremer e tontear
e tem tambem um tambor de terreiro
junto com um bumbo,
aplacando a dor

ressoando com calor
nas almas inquietas do mundo inteiro

queimando tão fundo e vertendo lágrimas tão mágicas
que mesmo o mais bruto chorou

*
como seria possível que uma base me fizesse chorar?
e me fazer delirar legal
sendo muito melhor que o real?
*

não sei, descobri
que tô numa de renascer das cinzas
fazer do coração e das tripas
novos mecanismos,
recriando o organismo, toda mente em si
*
questiono minha vida,
minhas crenças
ideologias
e constato
afinal
*
que o meu engajamento é lento
individual
confuso
muitas vezes
restrito ao lamento
e por isso difuso
paradoxal
como toda a minha existência
no mundo real
*
assim, constato,
para mim
a única possibilidade
de militar na vida
sem me limitar
só se mostra possível
através da arte
*
faz parte
mas sem panfletos
ou discursos ensaiados
que saiam de mim
apenas palavras autênticas
autenticando o etéreo
amplificando o grave inaudível
com a força compressora do estéreo
*
sempre sem pressa
pois o recado foi dado
quem tem coração para ouvir
sabe que nada foi em vão
quem puder, vai sentir
se possível, intuir
e encontrar a melhor forma de agir
*
o desafio é não desafinar
afinar o discurso mal feito
encontrar os iguais
mesmo diferentes
caminhando ao lado, na frente, de todo o jeito
de todo tipo de gente
o impulso é imediato -
para salvar a todos nós, timoneiros e náufragos -
porque ele se basta na mente

*
contribuições, diretas e indiretas
(portanto, reflexivas)
- beatles (my guitar gently weeps)

- immortal technique
- ancient astronauts
- gotan project (lunatico)
- portishead
- jorge ben (a tábua de esmeralda)
- bob marley (natty dread)
- los sebosos postizos/nação zumbi
- jamiroquai
- sabotage

P.A.Z.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

minhas máximas minimalistas (volume I)

I
reduzir para simplificar
sofrer para transmutar
dividir para reinar
errar para entender
morrer para renascer
reconhecer para perdoar
destruir para criar
admitir para modificar
viver para amar

II
poucas
mesmo
palavras
soltas
ao vento
são capazes
de
causar
grande
ALENTO
mesmo
quando
soltas
ao sabor
do vento




III

"Aproveite todo tempo livre e sonhe.
Se livre do que não te vale
Afinal, sonhar ainda não custa nada,
mas pode valer sua alma"


IV
Minha métrica é irregular
meus versos, sincopados
quase nada tenho de musical
atravesso o tempo o tempo todo
sou palavra rascunhada
de garranchos indeléveis
cravando fundo em sua alma

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

vão desabafo de um bufão

Bom, aqui vai mais um:

espero pelo inesperado

em permanente compasso
de passos nada apressados

assim, o apreço pelo passado
por algo dissimulado
ou pela trapaça

por tudo que me ameaça
me toma de assalto
simulando sobressaltos
sem sentido

diante disso
ninguém me detém
nada se mantém
coeso

no meio deste impasse
não vislumbro o que lhe ameace
ou ao menos um sinal de solução

mas, bem ali há um álibi
que traduz um escasso alívio
onde as curvas da dúvida se mostram turvas

o que é dúbio, não é;
simplesmente está
lentamente me entorno ao meu entorno
dentro de um hipotético delírio profético
contido na criação poética

não pode haver pretensão neste processo
afinal, nunca fui senhor das palavras
são elas que me escravizam,
moldando-se em diáfanas formas difusas
fundindo e nos confundindo ao seu bel prazer

assim, nessa toada, vou lavrando significados
no aceite deste desafio estético
me esmero, sincero,
em um mero escrito patético
diante de tão árduo cenário
encontro meu principal refúgio

para me encontrar, fujo
buscando então escapar,
se possível me reinventar
e dentro de mim erradicar
tamanho impulso opressivo que me infesta,
assim criei estes versos de desabafo
espécie rara de manifesto antidepressivo
é deste antídoto que preciso
pois ainda há bastante dele para a cura

mesmo assim, minha mente mente
tento me desculpar, não é algo coerente
ou sequer um desejo consciente
vivo imerso nesse desafio intermitente

oscilo, me equilibro por um fio
por um instante permanente
nada separa o caos, a loucura,
o desejo, os devaneios da dor e amor
por um instante permanente
a fúria perfura a aparente superfície
urge como o rugido silente

tão inaudível quanto:
os golpes do malho do artífice
tudo o que não foi falado entre um casal
os urros dos murros em muros pontiagudos
do mesmo modo que os contornos de algo inacabado,
sem solução real, definitiva e latente
por tudo aquilo sem resultado ou significado

mas e daí?
estou cansado de certezas
quero mais delírio, lágrimas,
novos aromas, paisagens
gargalhadas, beijos demorados,
passeios ao léu por antigas paragens
chuvas arco-íris escorrendo da sua íris
e nada disso faz sentido

sonho acordado há milênios
e a liberdade se mostra tão próxima
pois basta cruzar a fronteira do real
aciono um coro clássico de vozes em uníssono
seria meu placebo contra o sono
uma resposta tardia
contra a letargia
que dentro de mim ardia
agindo contra a vida, o desejo
e qualquer sorte de magia

não há nada de errado com o mundo
pois ele está sempre a seguir em sua rotina contínua
noite após noite, dia após dia
o mal reside no inconformismo

quem vai se atrever a dizer
que nisso tudo há alguma razão?

e, se sentido houvesse,
sempre poderia ouvir de outro ser
alguma prosaica alma que me dissesse
ser apenas produto fortuito de uma ilusão
ou então, como diz o título, simplesmente
o vão desabafo de um bufão
por rodrigo cruz



considerações sobre a dor de amar


depois dessa madrugada, nada mais me importa
estava angustiado, realmente incomodado
até alguma parte perdida de mim dizer:
"não há de ser nada, isso passa, você está aprendendo"

"ainda há tempo..."

como assim, penso seu?
o amor me parece tão longe
sonhei, arrisquei, me doei
a esse translúcido sentimento me entreguei
e o que sobrou?

nem as sobras, sem sombra de dúvidas
de redenção, passou, nada restou
um irreversível verso, se mantém
o reverso desconexo do real

"mesmo assim, há tempo..."

para saber que a alma feminina não é algo que se entende
para aceitar como um coração partido como o meu nunca se rende
que, para transmutar a culpa, a verdade sempre prevalece
e arde, mesmo que tarde, até que o corpo desfalece

"sempre há tempo!"

para aceitar que promessas de amor,
mesmo as sinceras declarações
são palavras vãs, simples mentiras,
meros impulsos, convenções
se diluindo em súbito desalinho
ao sabor do vento
deixando como vestígios
apenas pranto e lamento

"(...) ainda sim, há tempo (...)"

para recomeçar, juntar os cacos,
o infinito em mim resgatar
fazer da vida poesia,
dos meus dias novas agonias
juro para mim mesmo

"tem que haver tempo"

a vida apenas começou
se você errou - sugere a tal voz perdida - reconheça, se perdoe
não tenha medo de tentar
arrisque-se, desacredite daquilo que lhe faz mal
saia do plano a
dirija na contramão
inove!

que tal olhar para o mundo com novos olhos?
é isso que eu desejo a partir de agora
vou atrás de um bálsamo
capaz de curar as feridas
do meu coração empedrado
não me sinto superior, mais inteligente, evoluído
é algo diferente, estou apenas desperto

"e por isso sempre haverá tempo..."

esse é o meu pacto com a eternidade

rodrigo cruz




terça-feira, 11 de agosto de 2009

quebra-cabeças mental

obrigado a todos que visitam este espaço, isso me motiva a continuar escrevendo... espero novos comentários, sugestões e críticas...
aguardem, pois em breve algumas novidades brotarão por aqui, especialmente na parte gráfica/visual, tão logo eu consiga dominar esse incrível mundo da diagramação bloguística... aceito sugestões em relação a isso também!
assim sendo, vamos ao discurso nonsense de hoje:


minhas idéias não me pertencem
partilho com o mundo
tudo aquilo que é meu por direito

me intimo a fazê-lo,
no meu íntimo
não sei mentir
gaguejo, hesito, tartamudeio
mas sou capaz de enganar com maestria
por permanecer imerso em ilusões...

a força do vento sibilante desta madrugada
além de arrancar uma árvore
me soprou revelações desconfortáveis
a recusa aguda ao bom senso
acusa um calculado desleixo
cumprindo simétrica função
nesse delicado equilíbrio instável
de uma mente por demais confusa
não consigo fugir dessa sina
entre ciclos, pausas e retomadas
me encontro entre respostas vãs
tudo aquilo que decifro me encarcera
mantendo-me cativo das sensações e dilemas
enquanto o tempo cumpre o seu papel
ponho as barbas de molho
na devida medida
que o pelo cresce
me torturo nesse epifânico enduro
interminável e hercúleo
nessa árida jornada lírica
atrás das palavras adequadas
em uma inútil tentativa
de sintetizar o inefável
rascunhando em línguas mortas
todos os sonhos e desejos perdidos
para fazer dos signos possíveis
espelho e escudo
contra meus próprios humores
prosa, poesia, drama, tragédia, ou pura ironia
nada mais são do que rótulos
explicitam, ilustram, sem traduzir
memórias, momentos, lamentos inglórios
pequenos pedaços do todo que me interessam
pois apenas
me deformando
dessa forma
seria capaz de remontar minha essência
tornando a jornada neste plano
um permanente mosaico humano

rodrigo cruz

"aprendi a caminhar, desde então gosto de correr. aprendi a voar; desde então, não preciso de que me empurrem, para sair do lugar.
agora, estou leve; agora, voo; agora, vejo-me debaixo de mim mesmo; agora, um deus dança dentro de mim"
(nietzsche, em: assim falou zaratustra, p. 58)





segunda-feira, 10 de agosto de 2009

sabe? fé em quê?

bem... aproveitando a brisa matinal que vem do oeste, o aroma de café do vizinho trazido pelo vento, eis que surgem novas (seriam novas mesmo?) indagações:

uma lagrima vertida,
se debruça de um dos olhos
o direito,
encaro isso como um bom presságio
pois apenas a outra vista
se habituara a chorar nestes últimos meses...

o melhor sinal disto,
é que se tratava de uma lágrima diferente
não tinha sabor de tristeza, mas sim de alívio e esperança!
confirmando assim, o tal ditado:
"depois da tempestade, sempre vem a bonança..."

gostaria que fosse diferente
que meus dias sempre sorrissem para mim
acordar alegre, transbordando algo lilás,
me enchendo de novas promessas e lembranças

mas não, minhas ilusões são cinzas, sombrias e amargas
fujo da técnica, do convencional, das respostas prontas
assim me aproximo do patético e me distancio da beleza
gostaria de ser um poeta, pois apenas finjo
talvez seja esse o meu maior dom

diante desta constatação decido pela sinceridade
há algo em mim de bom, pena que calado
sinto muito por sentir de tudo um pouco
e mesmo assim, ou talvez por causa disso,
o tudo e o todo me pareçam tão distantes

a lógica me confunde com metódica eficácia
o sentimento me domina, abrupta e impiedosamente
poderia, deveria ou gostaria
de colocar cor nessas linhas
só que elas não falam por mim

e, pensando fundo, naquele momento
em que cessam as mentiras
desmontam-se os palcos
ou cicatrizam as chagas
surge uma resposta

talvez eu prefira assim
não sei o que sou
o que faço aqui
por onde vou
e por isso erro tanto

pois gosto de vagar, divago sobre isso
mesmo que esteja parado, sentado, caminhando
diante dos outros, preso em sonhos ou cenas repetidas
e por mim vividas, espelhadas em momentos alheios

mesmo não indicando sentido concreto
como tudo o que fora por mim agora escrito
minha fé repousa onde piamente confio
e o importante nisso tudo é não desacreditar

na realidade não há outra saída, creio eu
o bilhete é unico, pessoal e intransferível
e a viagem, apesar de eterna, é só de ida.

paz e amor a todos os seres humanos





domingo, 9 de agosto de 2009

domingueira de sonhos coletivos

A de hoje:
recuso, confuso, um sentimento tão difuso
recluso diante do meu fuso interno
me internando em pensamentos perdidos
tal qual um naúfrago
dentro de mim
ao seu lado
no meio da multidão
num almoço de família
na praia lotada
debaixo do chuveiro
diante de toda e qualquer possibilidade
certa ou incerta
desafiando a lógica e o pragmatismo
discordando daquilo que é absoluto
somente assim posso existir
sem fazer figuração
ou bancar o imbecil
há tanta beleza pelo mundo
que me confundo
respiro, inspiro, aspiro novas possibilidades
mas a vida continua igual
ou fui eu que retrocedi?
ao menos não me rendi totalmente
o desespero veio, em mim se instalou
por pouco pouco sobrou
mas agora eu vejo
receio, mesmo que não seja
eu mesmo
aqui.
que tenham me trocado por outrem
os trocados no meu bolso fazem troça disso
como assim?
não há o que explicar
desde sempre sempre sonhei em alcançar as estrelas
mas tenho medo de altura
e não ando de bicicleta
e daí? por isso voo
alço asas invisíveis
nos meus passos
sempre quis me libertar
mas meu sono se mostra abrigo de delírios
não de lírios...
desejo a paz no mundo
só que meu mundo interno é sangrento
aos olhos dos outros talvez
seja um fraco, um covarde,
menos do que um rato
e prefira assim
pelo menos nisso há coerência.
cansei de me degladiar desarmado
quando meu coração é uma bomba-relógio
abriga tanto ódio, dor e loucura
talvez nisso resida a minha cura
Rodrigo Cruz
(vulgo zer0)

boa semana a todos!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

curtíssima

eu trago
inalo
respiro
prendo
inspiro
transmuto a negatividade
expiro

o prazo de tolerância acabou

agora é assim
bateu, levou.



dose múltipla de divagações


Salve, Salve!
Bom dia aos que me acompanham... estava vasculhando uns cadernos antigos e encontrei coisas escritas que me remetem a um passado longínquo, algumas razoáveis, outras ruins e poucas boas... mas é um material que pode ser trabalhado com mais rigor daqui pra frente e pretendo expor aqui em breve (assim que meu senso crítico permitir).

Achei interessante exibi-lo em contraste com algo atual, o que pode mostrar alguma variação de humor, além das próprias temáticas, refletindo o momento por mim atravessado. Assim, sem mais delongas, vamos que vamos:


I
por um triz

um dia quase fui feliz
andava perdido, sem rumo
mas, do nada, perdi o prumo
assim que lhe vi
foi por pouco, foi por um triz

cá estava, louco
fazendo pouco do meu destino
mas, ao te ver,
voltei aos sonhos de menino
quase fui feliz

assim, ao te olhar
voltei a delirar, acreditar
em contos de fadas, encantos, feitiços
por voce faria qualquer sacrifício
faltou pouco

de forma inocente
comecei a te vigiar, observar
pelo seu sono velar
resolvi mudar, virar gente
quase consegui

mas então, o desgosto
invadiu meu coração
levou meu mundo de ilusão
só restou apatia,
sem qualquer garantia
de que voltarei a vê-la um dia

me sinto tão infeliz
talvez por não querer
chegar tão perto de você
faltou pouco, foi por um triz

***

II - dilemas pós-modernos (?)

explicar o infinito?
como poderia, se mal sei
talvez nunca entenderei
esse mundo que habito?

vivemos em uma aldeia global
em uma pretensa utopia coletiva
imposta por minorias fascistas
imensa hipocrisia virtual

teorias, dúvidas, indagações
conspirações, intrigas, paranóia
estou preso como a presa da jibóia

a eterna disputa entre o bem e o mal
acaba reduzida a um conflito banal
entre o material e o espiritual
diante do plano real
tão concreto quanto uma quimera
devoradora de sonhos há eras

diante disso, como agir?
não vou mais refutar
tampouco reclamar,
me importar
com o que irão pensar
se irão notar, criticar, elogiar
nessas horas pensar dói
sentir é incômodo
viver é um eterno estorvo

então mostre algo diferente
daquilo que já aprendeu
não repita a forma,
o padrão no qual viveu
mesmo que seja difícil, insista
não desista
dessa batalha
pois o caminho
é a sua principal conquista



III - daydreamer

nesses horários alternativos

muitas vezes
o sono costuma fugir
nativo do mundo das almas perdidas que sou
não tento buscá-lo
passo minutos, horas, dias...
eras, ciclos, aeons
devaneando devagar dentro de mim
e para sair?
é esse o problema, minha maior questão
solucionar tão insolúvel equação


IV - amor sonâmbulo
puras
suas
asas
nuas

me levam
a voar
em pelo
explorando

o cosmos
o infinito
do seu corpo
à procura
da redenção


Bom final de semana!!!
Muito amor a todos, como prega a citação abaixo:

"Love is the affinity which links and draws together the elements of the world... Love, in fact, is the agent of universal synthesis."
(Teilhard de Chardin)


trilha sonora recomendada:
max romeo & the upsetters - I chase the devil
augustus pablo meets lee perry at black ark (1975) - king pharaoh's army
confucious (live) - the skatalites
los sebosos postizos - comanche
tim maia - bom senso