Bom, aqui vai mais um:
espero pelo inesperado
em permanente compasso
de passos nada apressados
assim, o apreço pelo passado
por algo dissimulado
ou pela trapaça
por tudo que me ameaça
me toma de assalto
simulando sobressaltos
sem sentido
diante disso
ninguém me detém
nada se mantém
coeso
no meio deste impasse
não vislumbro o que lhe ameace
ou ao menos um sinal de solução
mas, bem ali há um álibi
que traduz um escasso alívio
onde as curvas da dúvida se mostram turvas
o que é dúbio, não é;
simplesmente está
lentamente me entorno ao meu entorno
dentro de um hipotético delírio profético
contido na criação poética
não pode haver pretensão neste processo
afinal, nunca fui senhor das palavras
são elas que me escravizam,
moldando-se em diáfanas formas difusas
fundindo e nos confundindo ao seu bel prazer
assim, nessa toada, vou lavrando significados
no aceite deste desafio estético
me esmero, sincero,
em um mero escrito patético
diante de tão árduo cenário
encontro meu principal refúgio
para me encontrar, fujo
buscando então escapar,
se possível me reinventar
e dentro de mim erradicar
tamanho impulso opressivo que me infesta,
assim criei estes versos de desabafo
espécie rara de manifesto antidepressivo
é deste antídoto que preciso
pois ainda há bastante dele para a cura
mesmo assim, minha mente mente
tento me desculpar, não é algo coerente
ou sequer um desejo consciente
vivo imerso nesse desafio intermitente
oscilo, me equilibro por um fio
por um instante permanente
nada separa o caos, a loucura,
o desejo, os devaneios da dor e amor
por um instante permanente
a fúria perfura a aparente superfície
urge como o rugido silente
tão inaudível quanto:
os golpes do malho do artífice
tudo o que não foi falado entre um casal
os urros dos murros em muros pontiagudos
do mesmo modo que os contornos de algo inacabado,
sem solução real, definitiva e latente
por tudo aquilo sem resultado ou significado
mas e daí?
estou cansado de certezas
quero mais delírio, lágrimas,
novos aromas, paisagens
gargalhadas, beijos demorados,
passeios ao léu por antigas paragens
chuvas arco-íris escorrendo da sua íris
e nada disso faz sentido
sonho acordado há milênios
e a liberdade se mostra tão próxima
pois basta cruzar a fronteira do real
aciono um coro clássico de vozes em uníssono
seria meu placebo contra o sono
uma resposta tardia
contra a letargia
que dentro de mim ardia
agindo contra a vida, o desejo
e qualquer sorte de magia
não há nada de errado com o mundo
pois ele está sempre a seguir em sua rotina contínua
noite após noite, dia após dia
o mal reside no inconformismo
quem vai se atrever a dizer
que nisso tudo há alguma razão?
e, se sentido houvesse,
sempre poderia ouvir de outro ser
alguma prosaica alma que me dissesse
ser apenas produto fortuito de uma ilusão
ou então, como diz o título, simplesmente
o vão desabafo de um bufão
por rodrigo cruz
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