sábado, 21 de novembro de 2009

desabafo sufocante

vocifero contra os deuses construídos
constituídos de maneira inconstitutiva
destilo desejos destrutivos,
desde antes dos meus sonhos
mesmo assim vamos lá
prossigamos em frente,
não há como negar

vivemos tempos sombrios
por isso, evite choramingar
não alimente mais frustrações
controle suas reaçoes
não aumente o valor de sua dor
ou ignore o torpor doente
do ente querido

assim arrisco, cisco, corro riscos
driblando o fisco, mas não sei jogar bola
sou uma negação, mas não o nego
deixo de agir e nada de bom
vai surgir do nada
ao nada devo me render
não posso mais me conter

o relógio toca e eu ignoro
oro por mais dez longos segundos
segundo os quais tais sonhos se refazem
jazem passados e descontados
não evito mitos infundados
acabo me afundando em pensamentos
ocultos, cultos, doutos, moucos

poucos deles valem a pena
ou sequer entram em cena
não é drama, nem tragédia
na corrida da vida perco as rédeas
sem sentido sinto apenas
sem certeza, mas a falta
há falta

que me mata pelo peso
e o vazio não é bom
mas é meu único alento

sonho acordado com
uma espécie de suave milagre
mesmo sabendo
que não há nada capaz
de apagar o passado
não procuro redenção
apenas um propósito

apuro todos fatos
para então depurar
a mim mesmo
atiro a esmo
e acerto o alvo
ninguém está a salvo
da mudança
dos ciclos
das transições

ninguém é imune
aos ditames da vida
ninguém passa incólume
aos sofrimentos, às dores
aos dissabores da vida

afinal, não nos resta outra saída
senão seguir na missão
que para mim se traduz
e não se reduz
a procurar o meu lugar
no mundo, no fundo
naquilo que há de mais profundo
no âmago do meu ser amargo

sem ironia, clichê ou chavão
é tão difícil encarar a verdade
ainda mais quando tudo mais
parece tão vão demais

viver machuca e arde
e qual seria o caminho?
não deve ser sozinho
e a passagem contra o desafio
é apenas uma, seja qual for
assim creio que o antídoto da dor
está contido na nobre arte do amor
(rodrigo cruz)



Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.
1 Coríntios 13

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

parte zero, um, a seis, de uma só vez!

0 - o tema é:

a vida árida na babilônia
por onde me arrisco sem risco
driblando os maus fluidos
olores nauseantes e dissabores
meu compasso é desse jeito
*
malfeito, torto, confuso
tropeço trôpego em passos lentos,
por espaços cheios ignorando
os fortes cheiros de urina, suor e amônia
*
percorro a fauna urbana
e me deparo com uma gama de espécies raras
loucos acadêmicos, coroas endinheirados
michês sacanas, artistas fracassados
e relíquias de cinema
nessa vida repleta de clichês
*
acho tudo bacana
e assim vou formando
(ou seria deformando?)
uma pseudo-rima urbana
cheia de ironia
*
mas ignorando totalmente
a métrica
as convenções
recursos estilísticos
adjetivos, termos, sentenças
conjunções ou apóstrofes
*
ou mesmo soluções esmeradas
encontradas em ânforas perdidas
por antigos liristas
(novos, atuais, futuros)
rimadores, escritores, cantores
mas ainda sim os exalto
*
I - sejam eles:

camões, pessoas, marcelos
joões, gustavos, leandros, carlos
sebastiões, franciscos, fredericos
aoris, coras, manéis, caetanos,
mauros, agenores, jorges, renatos
pedros, paulos, robertos, ricardos
bernardos, rodrigos, clarices,
mauros, gabriéis, safos,
sophias, homeros, marcos ou vinicius
(em suas rimas repetidas)
*
expressando escritos, relatos e mitos
proferidos desde antigamente
sentenças cantadas
por antigos menestréis
entoadas pelos aledos,
sonhadas por musas
dedilhadas pelos bardos
narradas pelos griôs
valorizadas pelos mecenas
recitadas por repentistas
*
II: para mim todos eles são:

verdadeiros magos
alquimistas do pensamento
contístas do encantamento
multiplas miríades míticas
manifestações materiais
multi-artistas dimensionais
(multiinstrumentistas espirituais)
senhores de todas as dores
cronistas imortais nos seus anseios
capazes de vencer
os grilhões do tempo
de qualquer modo
com o uso de todas manhas
armadilhas e artimanhas criativas
*
assim cá estou
sempre transformando
(transmutando dores)
me convertendo também
em arte ativa
produto nada palatável
para todos os sabores
*
III - pra lá:

de bagdá, marrakesh,
baixada fluminense, jardim ângela
são gonçalo, paris, cairo ou goa
não importa o lugar
*
sigo errando, parado,
meditando, viajando
para decifrar
os segredos e resoluções
com rimas nunca dantes cifradas
em mares jamais navegados
*
não, não tenho a pretensão
(ou tampouco a doce ilusão)
de me comparar aos maiores
apenas os respeito e reverencio
*
e por isso os cito,
deveras envergonhado
balbucio seus nomes e os sussurro
em quase completo silêncio
esperando que me escutem
e prontamente respondam
*
IV - pois é:

já disse
assim o sou
(igual ao flow, ou seja)
veja bem além
através da rima
levada rimada
entoada embolada
procuro alcançar a métrica tétrica
repetitida e sincopada
de maneira intuitiva
nada planejada
sempre improvisada
que se propaga mesmo no real
(ainda que eu não tenha um real)
*
no espaço sideral
meso-universal
totalmente abissal
os sonhos me valem mais
pois sei do que sou capaz
assim estou e permaneço
*
repleto de desejos cinzentos
prossigo meu lamento
(tomado por delírios)
açoitado por lírios
que invadem
todos os pensamentos, em momentos
e tormentos inquietos
que assolam minh´alma
corroendo-a com mórbida calma
*
assim eu vou
nada é demais
mesmo assim nada
(parece ser)
capaz de restaurar
minha paz
*
V - reconheço

a mentira é dolorosa
porém necessária
a certeza arbitrária
em nada me auxilia
*
apesar disso tudo, não volto atrás
a capacidade de verdade
é aniquilada pelo peso da lâmina
uma espada invisível e gigante
retalhando meus pensamentos
com tamanha brutalidade cortante
*
ao sorvê-la, sofro:
com o sabor sombrio
na magia do polén amargo
apesar disso, dos vícios
equívocos e atos omissos
recrio minhas cinzas
tal qual a fênix incauta
estilhaçando torres da inconsciência
ou do mesmo modo imprudente
como o psiconauta imerso
nos perversos pântanos da demência
*
mesmo assim, ou talvez por estes atos
alguém ainda me pisa
me deságuo em pensamentos nefastos
procuro manter o brio de qualquer modo
inovo e renovo minhas esperanças de novo
*
minhas atitudes são estúpidas
toscas, tolas, esdrúxulas
impensadas, desmedidas
muitas vezes surdas e burras
*
VI - pois vivo às turras

com meus pensamentos
não consigo domesticar minhas emoções
adestrar meu louco coração
falo mais do que deveria
*
não consigo agir de outro modo
mas prossigo com tal pretensão
na doce ilusão de resgatar
minha melhor parte pela arte
desse circo de horrores, das dores e temores
*
torturo-me ao abrir
a caixa de pandora sem demora
saio correndo em passos céleres, sem sorrir
na vã tentativa de fugir ofegante do hades
*
mas tarde concluo:
nada mais me é preciso,
pois é possível
encontrar a redenção
e lutar pela paz,
haveria nisso
algum um tipo de contradição?
*
para mim não,
apenas uma louca ilusão
mas é muito mais,
uma velha missão
enquanto o coração bater
não há nada a temer
apenas perdura a pena
a duras penas
apenas
me resta
remar
rimar
para
alcançar
a paz
ultrapassar
tudo
e
o nada
mais
sem mais
rodrigo cruz




músicas (in)cidentais:
emicida - por deus, por favor
destruction of a guard - gza e dj muggs featuring raekwon
mos def - i´ve commited murder

the roots - pass the popcorn
céu - grains de beauté
solution featuring talib kweli & asheru - moodswing
method man & redman - we´ll all rite cha´
mv bill - dizem que sou louco
parov stelar - spygame
cartola - alvorada
korn - make me bad
chico buarque - construção

Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.
(Mário Quintana)


paz e amor!