segunda-feira, 9 de novembro de 2009

parte zero, um, a seis, de uma só vez!

0 - o tema é:

a vida árida na babilônia
por onde me arrisco sem risco
driblando os maus fluidos
olores nauseantes e dissabores
meu compasso é desse jeito
*
malfeito, torto, confuso
tropeço trôpego em passos lentos,
por espaços cheios ignorando
os fortes cheiros de urina, suor e amônia
*
percorro a fauna urbana
e me deparo com uma gama de espécies raras
loucos acadêmicos, coroas endinheirados
michês sacanas, artistas fracassados
e relíquias de cinema
nessa vida repleta de clichês
*
acho tudo bacana
e assim vou formando
(ou seria deformando?)
uma pseudo-rima urbana
cheia de ironia
*
mas ignorando totalmente
a métrica
as convenções
recursos estilísticos
adjetivos, termos, sentenças
conjunções ou apóstrofes
*
ou mesmo soluções esmeradas
encontradas em ânforas perdidas
por antigos liristas
(novos, atuais, futuros)
rimadores, escritores, cantores
mas ainda sim os exalto
*
I - sejam eles:

camões, pessoas, marcelos
joões, gustavos, leandros, carlos
sebastiões, franciscos, fredericos
aoris, coras, manéis, caetanos,
mauros, agenores, jorges, renatos
pedros, paulos, robertos, ricardos
bernardos, rodrigos, clarices,
mauros, gabriéis, safos,
sophias, homeros, marcos ou vinicius
(em suas rimas repetidas)
*
expressando escritos, relatos e mitos
proferidos desde antigamente
sentenças cantadas
por antigos menestréis
entoadas pelos aledos,
sonhadas por musas
dedilhadas pelos bardos
narradas pelos griôs
valorizadas pelos mecenas
recitadas por repentistas
*
II: para mim todos eles são:

verdadeiros magos
alquimistas do pensamento
contístas do encantamento
multiplas miríades míticas
manifestações materiais
multi-artistas dimensionais
(multiinstrumentistas espirituais)
senhores de todas as dores
cronistas imortais nos seus anseios
capazes de vencer
os grilhões do tempo
de qualquer modo
com o uso de todas manhas
armadilhas e artimanhas criativas
*
assim cá estou
sempre transformando
(transmutando dores)
me convertendo também
em arte ativa
produto nada palatável
para todos os sabores
*
III - pra lá:

de bagdá, marrakesh,
baixada fluminense, jardim ângela
são gonçalo, paris, cairo ou goa
não importa o lugar
*
sigo errando, parado,
meditando, viajando
para decifrar
os segredos e resoluções
com rimas nunca dantes cifradas
em mares jamais navegados
*
não, não tenho a pretensão
(ou tampouco a doce ilusão)
de me comparar aos maiores
apenas os respeito e reverencio
*
e por isso os cito,
deveras envergonhado
balbucio seus nomes e os sussurro
em quase completo silêncio
esperando que me escutem
e prontamente respondam
*
IV - pois é:

já disse
assim o sou
(igual ao flow, ou seja)
veja bem além
através da rima
levada rimada
entoada embolada
procuro alcançar a métrica tétrica
repetitida e sincopada
de maneira intuitiva
nada planejada
sempre improvisada
que se propaga mesmo no real
(ainda que eu não tenha um real)
*
no espaço sideral
meso-universal
totalmente abissal
os sonhos me valem mais
pois sei do que sou capaz
assim estou e permaneço
*
repleto de desejos cinzentos
prossigo meu lamento
(tomado por delírios)
açoitado por lírios
que invadem
todos os pensamentos, em momentos
e tormentos inquietos
que assolam minh´alma
corroendo-a com mórbida calma
*
assim eu vou
nada é demais
mesmo assim nada
(parece ser)
capaz de restaurar
minha paz
*
V - reconheço

a mentira é dolorosa
porém necessária
a certeza arbitrária
em nada me auxilia
*
apesar disso tudo, não volto atrás
a capacidade de verdade
é aniquilada pelo peso da lâmina
uma espada invisível e gigante
retalhando meus pensamentos
com tamanha brutalidade cortante
*
ao sorvê-la, sofro:
com o sabor sombrio
na magia do polén amargo
apesar disso, dos vícios
equívocos e atos omissos
recrio minhas cinzas
tal qual a fênix incauta
estilhaçando torres da inconsciência
ou do mesmo modo imprudente
como o psiconauta imerso
nos perversos pântanos da demência
*
mesmo assim, ou talvez por estes atos
alguém ainda me pisa
me deságuo em pensamentos nefastos
procuro manter o brio de qualquer modo
inovo e renovo minhas esperanças de novo
*
minhas atitudes são estúpidas
toscas, tolas, esdrúxulas
impensadas, desmedidas
muitas vezes surdas e burras
*
VI - pois vivo às turras

com meus pensamentos
não consigo domesticar minhas emoções
adestrar meu louco coração
falo mais do que deveria
*
não consigo agir de outro modo
mas prossigo com tal pretensão
na doce ilusão de resgatar
minha melhor parte pela arte
desse circo de horrores, das dores e temores
*
torturo-me ao abrir
a caixa de pandora sem demora
saio correndo em passos céleres, sem sorrir
na vã tentativa de fugir ofegante do hades
*
mas tarde concluo:
nada mais me é preciso,
pois é possível
encontrar a redenção
e lutar pela paz,
haveria nisso
algum um tipo de contradição?
*
para mim não,
apenas uma louca ilusão
mas é muito mais,
uma velha missão
enquanto o coração bater
não há nada a temer
apenas perdura a pena
a duras penas
apenas
me resta
remar
rimar
para
alcançar
a paz
ultrapassar
tudo
e
o nada
mais
sem mais
rodrigo cruz




músicas (in)cidentais:
emicida - por deus, por favor
destruction of a guard - gza e dj muggs featuring raekwon
mos def - i´ve commited murder

the roots - pass the popcorn
céu - grains de beauté
solution featuring talib kweli & asheru - moodswing
method man & redman - we´ll all rite cha´
mv bill - dizem que sou louco
parov stelar - spygame
cartola - alvorada
korn - make me bad
chico buarque - construção

Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.
(Mário Quintana)


paz e amor!

Um comentário:

  1. Que Odisséia mental... ;)
    Desses aí acima eu só conheço Cartola e Chico... já vi que preciso ampliar horizontes musicais!
    A propósito... descobri que o melhor pastel da cidade (ganhou esse título num concurso da Prefeitura!) está todas as quartas-feiras numa feirinha aqui perto do trabalho... comerei um em sua homenagem... rs
    Bjos!

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