quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

confissões (parte 1)


carrego todos os pensamentos perdidos
mais aqueles sentimentos contidos
ou os livros que nunca li
nada disso desaparece de mim

ainda que sumam coisas
sejam elas
objetos valiosos
desejos cobiçosos
sentimentos trevosos
ou impulsos odiosos

isso tudo nada é
senão o reflexo de mim
aquilo do qual sou, fui e serei
feito e desfeito
mas nada me pertence
senão o universo
em versos diversos

talvez por isso não consiga
falar de amor sem melancolia
em um dado momento
ou à completa revelia
da maneira como
desejo-penso-sinto

minto tão bem, por isso me confundo
lá bem no fundo jaz a esperança
onde uma chama arde
indicando sem alarde
que ainda não está tão tarde

o sofrimento era feito companhia
avizinhando-se ao papel e caneta
até que algo em mim mudou
o conflito cessou

não me surpreendo mais
com a capacidade de renovar
que o mundo nos dá

apenas vivo, e isso é tanto
pois tanto mais há
pelo que sonhar
que acabo não sabendo sobre
nem de qual modo
poderia falar
sem hesitar, fraquejar ou falhar

era esse vazio que incomodava
cuja companhia me angustiava
mas me mantinha atado à vida
flutuando, meio confuso
muitas vezes à deriva

nele está a sua força bruta
caótica, confusa e abrupta
talvez por isso seja tão

complicado
difícil
intrincado

escrever
definir
explicar
como
(e como!)
sente e arde
esse meu louco coração
quando ama

quando o proclama
na cama
se esparrama
sorrindo de alívio
em cio completo
inquieto, arfante

confessando
desejos tórridos
quase sordidos
de estar e ter
em e com
dentro e fora

todas essas palavras são vazias
verbos-pronomes-preposições
só passam a ter valor
na deliciosa rima de corpos
quando a conclusão
dessa métrica
assimétrica
termina harmônica
no eu e você

7 comentários:

  1. Bela descoberta que fiz! Obrigada pelo link pro Grimoire!

    Bela expressão da vida!

    Um abraço Shin

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  2. Incrivelmente sedutora, irreverente, avassaladora. Sua poesia é maravilhosa, querido. Continue assim.

    Parabéns!

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  3. Um poema completo, sem dúvida!
    Tens uma habilidade para cavar a alma do leitor e mostrar-lhe o que ele quer ler...
    Acho difícil não gostar!

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  4. Parabéns Poeta! Lindíssimas letras!

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  5. Sabe que, relendo muitas vezes, acho que só agora cheguei à expressão real (ou mais próxima?) daquilo que quisestes dizer...
    E retiro o que disse antes: não acho mais que é um poema dividido em duas partes. É um texto coeso, mostrando duas faces da mesma coisa, único e total. :)
    Parabéns!!
    Mtos beijos,
    Ju

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  6. Lindo poema!
    Parabéns pelo blog, adorei seu trablho.

    Um abraço.

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