quarta-feira, 7 de outubro de 2009

algo (não tão) novo de novo (1a versão)

escrever sem ler
não tenho o que dizer
não o faço por amor ou lazer
*
essa é a primeira mentira de todas
sempre há o que ser feito
e, mesmo assim, nada pode ser desfeito
pois o efeito é lancinante
*
mais alucinante e, mesmo assim, nada o ameniza
me conduz por cada instante
paralisa, controla, ameniza
num intenso vai-e-volta inebriante
*
são frases, devaneios, pensamentos
ou tolas sentenças
proferidas por uma boca torta
ou recortadas direto
de uma antiga rima morta
*
portas se fecham
ao se abrirem sorrisos
novos olhares e desafios
desafino em desatinos
por desconhecer outro caminho
*
minha fuga é a saída
no escapismo estaria a redenção
de tão doce ilusão
dentro uma morada interior
resgato de dentro de mim
a mônada da vida superior
*
nada disso é fácil
não era esse o tema original
pelo qual escrevia
sofria, vivia, chorava ou sorria
*
não sei rimar, não consigo mais amar
nada mais há a encarar
é inevitavel aceitar
*
apenas a mais indecifrável
de todas as verdades
antes que seja tarde
a vida dói, o mundo arde
nada disso é em vão
*
minha missão se revelou
de forma deformada e velada
velando o sono dos insones
loucos, ébrios e desvairados
varando dias e noites
na busca pela via errada
*
minha criação enfim se eterniza
com o todo me harmonizo
sinto, penso, respiro, surto
não me furto ao direito de pensar em silêncio
enquanto minha alma escreve e descreve
*
possessa,
processa, confessa
proferindo e parindo pensamentos longínquos
partindo sem destino da lua até marte
trânsitos oblíquos de tão vã e marginal arte
(rodrigo cruz)


"Ver um mundo num grão de areia
e o Céu numa flor silvestre.
Ter o infinito na palma da sua mão
e a eternidade numa hora"

" To see a world in a grain of sand
And a Heaven in a wild flower,
Hold infinity in the palm of your hand,
And eternity in an hour ".

(Willian Blake)



ps: paz, flores e amores


3 comentários:

  1. Poderia eu estar mais arrependida por não ter vindo antes e apreciado-lhe as palavras?

    Gostei muito!
    De deixar o sentimento fluir dentro dos seus versos. E você sempre poderá amar.

    ResponderExcluir
  2. "Não sei quantas almas tenho.
    Cada momento mudei.
    Continuamente me estranho.
    Nunca me vi nem acabei.
    De tanto ser, só tenho alma.
    Quem tem alma não tem calma.
    Quem vê é só o que vê,
    Quem sente não é quem é.

    Atento ao que sou e vejo,
    Torno-me eles e não eu.
    Cada meu sonho ou desejo
    É do que nasce e não meu.
    Sou minha própria paisagem;
    Assisto à minha passagem,
    Diverso, móbil e só,
    Não sei sentir-me onde estou.

    Por isso, alheio, vou lendo
    Como páginas, meu ser.
    O que sogue não prevendo,
    O que passou a esquecer.
    Noto à margem do que li
    O que julguei que senti.
    Releio e digo: "Fui eu ?"
    Deus sabe, porque o escreveu."

    (Alberto Caieiro)

    ResponderExcluir
  3. Respondendo à sua dúvida: o bom de passar pela adolescência é que, depois dela, a gente pode escolher trazer só a melhor parte. ;)
    Nesse caso, talvez o possível seja simplesmente um produto da vontade... :)
    bjos!

    ResponderExcluir

diz aí!