espero de verdade que os poucos (porém valiosos e estimados) que por aqui passam estejam bem.
gostaria de anunciar a nova onda do momento aqui neste blogue: trata-se da postagem "dose dupla".
antes que perguntem como funciona essa maravilha literária, já me antecipo e informo que não é uma egotrip pretensiosa.
é um esquema bem simples, eu publico um poema meu, seguido de outro de um autor renomado que eu ache interessante e estabeleça algum tipo de diálogo com o poema original.
espero que gostem da idéia e, mais que isso, caso se sintam estimulados a participar, me mandem suas sugestões (nesse mesmo molde) para que eu as publique quando for oportuno.
aproveito também para perguntar quem aqui poderia me ajudar com as licenças creative commons, já andei atrás de ajuda, mas até agora nada!
ps: então, sem mais delongas, vamos ao que interessa:
tic-tac, tic-tac
meu choro mais sentido
o lamento mais sofrido
ninguém consegue entender
será mesmo impossível perceber?
e ver como não há mais
motivos pra chorar
ao mesmo tempo
entender porque
lágrimas vertidas
acabam
vistas como vertigens
a verdade é uma só
sinto muito e lamento
acho triste demais
presumo como ninguém mais
se mostra capaz de sofrer pelo outro
não encontro exemplos concretos
para sentir, calcular, estipular
muito menos mensurar
o teor da dor alheia
ainda mais no meu caso
tortura essa
que se torna eterna
não cessa e perdura
é uma espéce de bomba
na verdade só se desarma
quando me armo de papel e caneta
Dá-nos a Tua paz
(Álvaro de Campos)
Dá-nos a Tua paz,
Deus Cristão falso, mas consolador, porque todos
Nascem para a emoção rezada a ti;
Deus anti-científico mas que a nossa mãe ensina;
Deus absurdo da verdade absurda, mas que tem a verdade das lágrimas
Nas horas de fraqueza em que sentimos que passamos
Como o fumo e a nuvem, mas a emoção não o quer,
Como o rasto na terra, mas a alma é sensível…
Dá-nos a Tua paz, ainda que não existisses nunca,
A Tua paz no mundo que julgas Teu,
A Tua paz impossível tão possível à Terra,
À grande mãe pagã, cristã em nós a esta hora
E que deve ser humana em tudo quanto é humano em nós.
Dá-nos a paz como uma brisa saindo
Ou a chuva para a qual há preces nas províncias,
E chove por leis naturais tranquilizadoramente.
Dá-nos a paz, porque por ela siga, e regresse
O nosso espírito cansado ao quarto de arrumações e coser
Onde ao canto está o berço inútil, mas não a mãe que embala,
Onde na cómoda velha está a roupa da infância, despida
Com o poder iludir a vida com o sonho…
Dá-nos a tua paz.
O mundo é incerto e confuso,
O pensamento não chega a parte nenhuma da Terra,
O braço não alcança mais do que a mão pode conter,
O olhar não atravessa os muros da sombra,
O coração não sabe desejar o que deseja
A vida erra constantemente o caminho para a Vida.
Dá-nos, Senhor, a paz, Cristo ou Buda que sejas,
Dá-nos a paz e admite
Nos vales esquecidos dos pastores ignotos
Nos píncaros de gelo dos eremitas perdidos,
Nas ruas transversais dos bairros afastados das cidades,
A paz que é dos que não conhecem e esquecem sem querer.
Materna paz que adormeça a terra,
Dormente à lareira sem filosofias,
Memória dos contos de fadas sem a vida lá fora,
A canção do berço revivida através do menino sem futuro,
O calor, a ama, o menino,
O menino que se vai deitar
E o sentido inútil da vida,
O coveiro antigo das coisas,
A dor sem fundo da terra, dos homens, dos destinos
Do mundo…
(Fernando Pessoa in: "Poesia de Álvaro de Campos")
Ramana Maharshi
Gostei da iniciativa ^^
ResponderExcluirobs:tem um erro de digitação no seu escrito.
Agradeço a visita inesperada e a oportunidade de conhecer seu blog. Que incrível! E ainda mais linda essa proposta de relacionar grandes autores aos seus feitos. Muito bom mesmo. Tão boa que talvez eu copie.
ResponderExcluirAgora que já conhece o caminho, venha sempre para um chá.
Muito lindo o post todo.
ResponderExcluirAbraço!